Por Roberto Junquilho*
Hoje é dia de choro pelos que morreram nos porões dos quartéis, que foram atirados ainda com vida, com as pernas quebradas, ao alto mar, aos que partiram asfixiados por gás carbônico, em choques elétricos, enforcados ou com a cara esfacelada por um tiro de fuzil.
É hora de lamentar as crianças, mulheres e jovens trucidados na pátria ferida por falsos patriotas, falsos pastores e crentes desalmados e perversos.
Neste 1º de abril, o Dia da Mentira e também do golpe militar de 64, é hora de relembrar a dor estampada na face do amigo Juvêncio ao saber da morte de Mário Alves, seu irmão; a cara do coronel Luiz Arthur de Carvalho, o chefão da tortura em Salvador, invadir a redação da Tribuna da Bahia e esbravejar que prenderia todo mundo, ameaça cumprida sem demora, que o digam José Sérgio, Mariluce, Laura, Hamilton, Célio e tantos outros pelo Brasil afora.
É hora de lembrar o censor sentado ao meu lado determinando a mim e a Césio Oliveira o que podia ser publicado na edição do dia. Caso contrário, a prisão.
É tempo de lembrar dos que, em meio a tanta dor, deram fim à própria vida.
É tempo de lembrar das negociatas e conchavos dos ditadores, do enriquecimento dos torturadores, dos frutos ditadura,que se contam desde a expansão da dívida externa, à cultura da violência , à manutenção dos privilégios das elites, ao aumento das desigualdades sociais.
Hora de lembrar de Theodomiro Romeiro dos Santos, condenado à morte, e outro fugitivo, de nome André, abrigados comigo e Eli, em nossa casa, em Itabuna, a caminho do exílio, depois de torturado quase à morte na Penitenciária Lemos de Brito, em Salvador. É hora de lembrar os pés descalços na cela cheia de água, os livros destruídos, sonhos desfeitos.
Há odor fétido de morte nessa ferida, de cadáveres insepultos a traumas nunca superados, exalando da impunidade dada aos criminosos.
Motivo para comemorar? Só na mente de quem tem a brutalidade e a estupidez como emblema de vida, incluindo religiosos muito distantes de um Deus de misericórdia que está sempre ao lado dos pobres e oprimidos, da justiça e da igualdade.
É dia de choro, mas de esperança, porque, como diz Thyago de Mello, o poeta, "Faz escuro, mas eu canto" ou como está na Bíblia: "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã". Os ditadores passam, a vida prossegue e a justiça de Deus sempre se fará.
*Jornalista.
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