Por Ricardo Coelho dos Santos*
Os espectadores de um filme costumam sair das salas no momento dos créditos ou não se ligam aos nomes dos participantes das equipes técnicas dos filmes. A maioria das pessoas desconhecem quem dirigiu ou produziu determinada obra fílmica, sendo raríssimos os nomes que chamam realmente a atenção do público com poder de atração para o povo comprar ingressos. Podemos citar Steven Spielberg como uma das poucas honrosas exceções. Quem gosta mais de filmes cult enchem a boca quando revelam terem assistido a um Fellini ou um Stanley Kubrick. Infelizmente, tão genial como eles, Albert Altman é uma pessoa bem menos lembrada, assim como tantos atores, diretores ou mesmo roteiristas e produtores.
Vamos colocar aqui três nomes envolvidos em lucrativas obras cinematográficas, sem, entretanto, se ouví-los citados em conversas de cinéfilos menos curiosos. Poucos diriam “fui assistir a um filme do fulano”. Falariam simplesmente o nome de um ator ou diretor mais conhecido ou mesmo somente o nome da fita e mais nada, deixando de lado o responsável por outros filmes de mesmo tamanho de sucesso. Alguns desses nomes, entretanto, são bem conhecidos nos seus países de origem, mas ainda desconhecidos no Brasil.
Comecemos por Joel Silver. Inventor de um jogo de frisbee, ele começou a carreira dirigindo um desenho animado que aparece no início do excelente “Uma Cilada para Roger Rabbit”. Mas logo veio a se tornar produtor e em 1985 fundou sua própria companhia cinematográfica: a Silver Pictures. Seu primeiro trabalho de produção foi em “Os Selvagens da Noite”, que fez enorme sucesso de crítica em 1979, em que ele trabalhou associado a Lawrence Gordon. Daí veio “Xanadu”, um enorme sucesso com Olivia Newton-John e Gene Kelly, ao som da Eletric Light Orchestra, um dos filmes mais dispensáveis que já foi projetado numa tela de cinema. Mas a compensação para os críticos veio em “48 Horas”, com Eddie Murphy, Nick Nolte e James Remar, uma comédia que impulsionou a carreira de Murphy no cinema, sendo esse o primeiro filme em que o nome de Joel Silver surgiu como produtor. Em 1984 ele lançou “Ruas de Fogo”, um show musical único, com mocinhos destruindo sozinhos as cidadelas dos bandidos, mocinhas vulneráveis, mulheres fortes, policiais corruptos e policiais íntegros e muito rock-and-roll. Nele vemos um ator canastrão, o Michael Paré, perfeito no papel, contracenando com Diane Lane, Rick Moranis, Amy Madigan, Willem Dafoe e o finado Bill Paxton, no papel cômico. E se escuta músicas de Ry Cooder que ainda hoje ouvimos de vez em quando nas rádios, como “Countdown to Love” e “I Can Dream About You”. Mas a mina de ouro de Joel Silver, mesmo com os excelentes filmes dirigidos por Walter Hill, ainda não tinha sido descoberta. E em 1985 ele explodiu de sucesso e deixou os críticos desesperados com “Comando para Matar”, o filme mais Schwartznegger já feito, em que ele sozinho, mais armado que uma guarnição militar normal, destrói um batalhão do país Valverde para salvar sua filha. Esse país é recorrente nos filmes de Silver. O modo “exército de um homem só” veio a lotar as salas de cinema. Eis que vemos uma sequência memorável, com alguns filmes até palatáveis, mas todos irresistivelmente atrativos: as séries “Máquina Mortífera” e “Duro de Matar” saíram de seus bolsos e foram altamente compensadoras. Ainda teve “O Predador”, “O Demolidor”, com Sylvester Stallone, Wesley Snipes e Sandra Bullock. Teve ainda “Romeu tem que Morrer”, “Swordfish — A Senha” e “Speed Racer”. Mas seu grande sucesso de público, crítica e discussões intelectuais ficou com “Matrix” e “V de Vingança”. Portanto, sem se preocupar com o que pensam dele, Joel Silver é uma garantia de se ver um filme, bom ou ruim, que agrade a quem assiste.
Passemos para Stephen Fry. Esse ator londrino pouco citado é, entretanto, cultuado até no Brasil, com a música de Zeca Baleiro que fez uma composição com seu nome. Ativista ateu, é afiliado ao Partido Trabalhista inglês e está envolvido em campanhas pró Palestina e contra as perseguições às comunidades LGBT. É autor de diversos livros, inclusive um com o compadre e amigo Hugh Laurie, o House, e é amigo também do Príncipe Charles. Trabalhou distintamente nos filmes “V de Vingança” e nos dois filmes “O Hobbit”, em que ele faz papel do lorde da cidade flutuante. Ainda, fez o papel de Mycroft Holmes em “Sherlock Holmes – O Jogo de Sombras”, contracenando com Robert Downey Jr. Ele pode ser conferido nos créditos originais do desenho animado “Pocoyo”, como o narrador da história. Sua voz marcante também está presente nos livros narrados de Harry Potter, no original inglês.
Em seguida, citamos Lawrence Kasdan. Raramente, se reconhece uma película pelo seu roteirista, e Kasdan não seria exceção. Porém, ele trabalhou em alguns dos filmes mais assistidos e icônicos da história do cinema. Ele também é diretor e produtor. Sua estreia veio no aplaudido “O Império Contra-Ataca”, substituindo a roteirista original, que tinha falecido. Se bem que anos antes ele tinha escrito o roteiro do insosso “O Guarda-Costas”, realizado mais tarde, com as representações de Kevin Costner e Whitney Houston. Mas depois de ter escrito aquele que é considerado o melhor filme da série “Guerra nas Estrelas”, ele logo veio a escrever “Caçadores da Arca Perdida”, outro sucesso incontestável em todos os sentidos, onde ele mesmo fez uma ponta. Estreou na direção no filme “Corpos Ardentes”, em que também foi autor do roteiro. Ainda, escreveu “O Retorno de Jedi”, continuando a saga das guerras estrelares numa galáxia muito distante, e também dirigiu e produziu os divertidos “Silverado” e “O Turista Acidental”. Produziu “O Guarda Costas” e escreveu, produziu e dirigiu “Wyatt Earp”. Escreveu e dirigiu “O Apanhador de Sonhos” e o retorno da série “Guerra nas Estrelas” com “O Despertar da Força”. Nem todos seus filmes foram bem-sucedidos em crítica ou em público ou em ambos. Mas seu nome tem a Força!
*Escritor, Engenheiro.