O informativo virtual “Folha Vitória” colocou no dia 6 de outubro de 2019 uma reportagem com o título: “Carlos Bolsonaro diz que presidente pediu estudos para baratear energia solar”. Nos detalhes da reportagem, se mostra que, na verdade, um seguidor do Presidente da República solicitou uma redução no imposto que incide sobre as placas solares, e assim veio a resposta de que se encomendou estudos.
Ainda bem, pois, até onde se saiba, a energia solar é gratuita: recebemos diariamente a luz do sol em nossos corpos, seja na praia, seja na cidade, e não pagamos nada sobre isso.
Porém, o que a reportagem mostra é que existe um desconhecimento generalizado sobre energia, tanto por parte de jornalistas como de políticos que ocupam todos os níveis de esfera governamental. Veio à minha cabeça a história da Presidente Dilma Rousseff que tentava explicar que não dava para engarrafar o vento. O problema é que, por mais cômico que isso tenha sido, ela falou uma dura verdade: vento não se armazena. Veio também outra história sobre duas cidades do Espírito Santo, não as citemos, que pegavam água da mesma lagoa. Porém, uma estava numa altitude menor que a fonte, permitindo que a água fosse simplesmente escoada para lá, e a outra estava num patamar superior, necessitando de uma bomba que onerava os gastos da prefeitura com energia elétrica. O prefeito, não se conformando, quis saber o porquê, e o técnico, na tentativa de resumir o assunto, respondeu que era por causa da Lei da Gravidade. O executivo então pediu que se revogasse tal lei, e a resposta veio de imediato: “É lei federal!
A preocupação real, esquecida, porém apontando um futuro sombrio pela frente, é que não saímos, ainda, da crise da energia. Muito foi divulgado sobre esse problema na década de 1970, quando os grandes produtores de petróleo resolveram fechar seus poços. Com as negociações e com a extração do petróleo no mar, a crise foi esquecida, agora transformada em aquecimento global. Gera-se energia elétrica em usinas térmicas, usa-se o gás natural cada vez mais como fonte de energia e se esquece que essa é poluente. O dióxido de carbono lançado na atmosfera é ainda o principal causador do efeito estufa, responsável pelo derretimento dos gelos polares, hoje ameaçando a vida animal e, amanhã, quem sabe, a nossa
Não é um problema fácil de se resolver. O homem precisa cada vez mais de energia. Mesmo se desligando da alta tecnologia e do conforto, grandes consumidores, há itens básicos que a demandam em grande quantidade, como transporte, saúde e alimentação. As grandes organizações estão cientes disso: o ramo automobilístico investe cada vez mais em gestão energética dos seus veículos, aproveitando tanto a energia solar como a própria energia cinética dos carros, usando, como grande exemplo, o que é gerado numa frenagem. A alta tecnologia também dá sua contribuição, como na criação de salas virtuais de reunião, que evitam a viagem de executivos, permitindo um grande contato visual entre os participantes, sem que cada um se desloque do seu escritório.
Porém, o setor de turismo, com viagens internacionais cada vez mais frequentes, redução e facilitação dos preços das passagens aéreas, geração de turismos predatórios, de baixo custo, em que se vai, vê, usufrui e se gasta o mínimo possível, prejudicando o conforto e a cultura, mas se formando multidões que lotam aeronaves cada vez maiores, são importantes contribuintes da poluição global, gerando energia de transporte, principalmente por aviões.
Outra forma de demanda de transporte é a centralização industrial. Quando antes se formavam várias pequenas indústrias para atender o mercado local, hoje a tendência é se implantar grandes fábricas, economizando-se em custos de empregados, equipamentos e um pouco da energia, e utilizando-se ao máximo os transportes. Isso ocorre no Brasil, mesmo com a malha ferroviária insuficiente para a demanda da atividade industrial, utilizando-se um batalhão de caminhões que enchem as estradas brasileiras, gastando-se muito mais energia que a que foi economizada.
Existem hoje fontes de energia não poluentes? Não! Não existem! O excesso de uso da luz solar pode reduzir a temperatura planetária, de acordo com estudos. Mas, hoje, a energia solar e a eólica causam ainda impactos insignificantes. Porém, usando as falas da nossa única presidente mulher, não dá para armazenar essas formas de energia. Verdade que a eficiência das baterias está cada vez maior. Automóveis e aparelhos celulares estão cada vez mais beneficiados com as novas gerações de baterias. Porém, se tratarmos de armazenagem de gigawatts ou mesmo terawatts, não existe ainda tecnologia para isso. E fica o petróleo e o carvão, altamente poluentes, como fontes usadas. Principalmente o primeiro, com a vantagem de poder se armazenar em tanques seguros e transportados de maneira barata, através de dutos.
Infelizmente, os acidentes que ocorreram em usinas nucleares causaram uma reação contrária desproporcional ao uso dessas fontes energéticas. Elas são menos poluentes do que se divulga. Verdade que seus resíduos permanecem tóxicos por milhares de anos, mas são em volume tão baixo que podem ser armazenados em local seguro, a milhares de metros sob o solo, só vindo à tona em períodos geológicos que já tornaram tais resíduos inócuos. Até onde se saiba, todos os graves acidentes nucleares foram causados por não observâncias de normas de segurança, tanto operacionais como de projeto.
Existem projetos futurísticos interessantes, como o de usinas solares de alto rendimento, recebendo a luz do Sol 24 horas por dia através do uso de espelhos em órbita. Porém, há algumas controvérsias sobre essa ideia, pois a região que recebesse tal carga luminosa estaria superaquecida e super iluminada. Outro, é a utilização do gás He3, o “hélio três”. Essa substância, instável, se transforma facilmente em hás hélio normal, subindo e desaparecendo no espaço, pois a gravidade da Terra é insuficiente para mantê-lo na atmosfera. Esse gás, entretanto, não é gerado no nosso planeta, mas na Lua. Ele se firma na superfície lunar e pode ser facilmente coletável, separado e armazenado para ser enviado à Terra. Esse gás tem a vantagem de ser uma fonte renovável. Algum tempo depois de coletado, ele pode ser encontrado e o processo repetido. Colocado no papel, há indícios de que tal utilização será econômica e menos poluente do que qualquer outra fonte hoje utilizada, mesmo com o aumento do uso de veículos espaciais. Já fizeram estudos sérios sobre isso, tanto no Japão como no Brasil, pela Petrobras, e a tecnologia está se encaminhando nessa direção.
O que então está faltando é se levar o assunto Energia mais a sério, ouvir autoridades sobre o assunto, deixar de lado opiniões de políticos oportunistas e informar esses assuntos à sociedade de maneira objetiva, clara e discutida por pessoas que entendem do assunto sem a intenção de se levar vantagens pessoais sobre a situação em que vivemos.
*Engenheiro e Escritor.