Por Erlon José Paschoal *
Alexander von Humboldt nasceu em 1769, em Berlim, na Alemanha, e se tornou uma pessoa singular, incomum, uma daquelas personalidades que surgem poucas vezes na História humana e que, por sua grandeza e pela força de seu pensamento, acabam sempre mudando os rumos dela. Não há muitos como ele, alguns apenas, como por exemplo, Einstein, Freud, Marx, Lutero, Beethoven, só para citar os de língua alemã.
No ano passado comemoraram-se em todo o mundo os 250 anos de seu nascimento. Humboldt foi um pesquisador incansável, mas, sobretudo, um naturalista que criou uma concepção da natureza - para a época extremamente nova - de unidade, ou seja, a natureza seria um corpo único, vivo, onde tudo está relacionado a tudo, e cada interferência destrutiva na espécie humana vai acarretar consequências até mesmo desastrosas no clima, nos fenômenos da desertificação e no aquecimento global. Conceitos hoje bem conhecidos de todos os ambientalistas e dos que se opõem à degradação da natureza e ao seu uso predatório, com o único intuito de obter lucros imediatos.
A escritora Andrea Wulf lançou na Inglaterra recentemente um livro que se tornou de imediato um best-seller tal como, aliás, todos os livros de Humboldt. Tem o título sugestivo de “A Invenção da Natureza”, e aborda a vida, as descobertas e a trajetória de Humboldt. No Brasil foi lançado pela Editora Planeta, numa excelente tradução de Renato Marques. Com uma linguagem fluente, acessível e envolvente, Andrea relata a vida, as viagens de Humboldt para a América Latina, os Estados Unidos, a Rússia e a Sibéria, suas inúmeras reflexões acerca da força vital que move a natureza, e sua produção ininterrupta e obstinada, mas sempre feita com alegria e prazer. Não parou de escrever até pouco antes de morrer, prestes a completar 90 anos. O seu livro que melhor o define é “Cosmos”, composto de vários volumes e que almeja contar a história e o processo de evolução do universo e de nosso planeta.
Humboldt teve um grande número de admiradores, adeptos, seguidores e discípulos. Muitos ficaram profundamente fascinados com a obra e as ideias de Humboldt, em inúmeros países e em diversas áreas do saber. Goethe, por exemplo, manteve com ele uma amizade duradoura e ambos se influenciaram mutuamente. Para Frederico IV, o rei da Prússia, ele foi “o maior e mais formidável de todos os homens desde o dilúvio.” Thomas Jeferson, então presidente dos Estados Unidos, o recebeu em sua casa, na recém-criada capital do país, Washington, por conta da admiração que nutria pelos resultados de suas pesquisas e peregrinações. Humboldt, por sua vez, sentia-se atraído pelos ideais de independência e liberdade daquele imenso país, embora ficasse indignado com o fato de manterem intacta a escravidão dos negros. Charles Darwin afirmou que só decidiu viajar para países distantes depois de ter lido a “Narrativa Pessoal” de Humboldt, que o marcou para o resto da vida, considerando-o depois disso como seu maior mentor. Até mesmo Simon Bolívar, com quem teve Humboldt teve vários encontros na Europa, o citava constantemente ao se referir à natureza dos trópicos. Sua visão holística da natureza, entendida como um organismo vivo, cuja força vital a tudo organizava, em uma época em que a Ciência se fragmentava e se subdividia em variadas especialidades, era algo que provocava surpresa e fascínio nos estudiosos e em todas as pessoas sensíveis. Sua visão de que todos os fenômenos naturais, econômicos, sociais e políticos estão interligados continua mais atual do que nunca.
Humboldt tornou-se o símbolo de tudo o que se refere à ecologia e à proteção do meio ambiente e das civilizações, influenciando um grande número de escritores e pesquisadores da natureza. Uma referência ímpar do cientista que não abriu mão nem da poesia, nem da imaginação, para melhor compreender os fenômenos da natureza e do universo.
Hoje precisamos com urgência reinventar a relação do homem com a natureza, até mesmo pela própria sobrevivência da espécie e do planeta.
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.