Quando a peste negra submergiu a Europa no século XIV o impacto do flagelo trouxe para a literatura, escultura, gravura e música o tema da dança da morte. Era uma alegoria artística-literária.
A Parca, com uma foice aos ombros, impulsionava todos a uma dança macabra.
Reis e subalternos, crianças, velhos, jovens governantes, bispos e sacerdotes, camponeses e príncipes, filósofos, letrados e analfabetos, obedeciam ao chamado para o trânsito à outra vida. A Parca igualava todas as classes sociais. Não havia diferença de classe, credo, Todos eram chamados ao traspassamento.
Em 2020 prosseguindo o 2021, século XXI, presenciamos a universalidade de uma pandemia igualitária de todos os estratos sociais. Desde os reis, príncipes, sacerdotes, deputados, vereadores, comerciantes, juízes, mendigos e ricos, alunos e professores, religiosos e laicos, enfermeiros, médicos e enfermos, todos são acometidos por um vírus atemorizador. Ele produz sofrimentos que levam alguns ao fim da vida.
Medidas higiênicas são exigências para conservação da saúde coletiva e individual e, entre elas está o uso de máscaras.
As máscaras servem como medida de proteção tanto para quem as está usando quanto para as pessoas ao redor de quem as leva. Elas funcionam como uma barreira física para a liberação das gotículas no ar quando há tosse, espirros e até mesmo durante a conversa. Mas traz desconforto para quem usa óculos, e para quem está correndo. Obstruindo o queixo, a boca e o nariz, ficam só os olhos à amostra, deixando-nos muitas vezes de poder apreciar um sorriso ou uma agradável fisionomia.
A invisibilidade de partes do rosto, pelo uso de máscara, nos lembra o uso da burka dos países muçulmanos.
A proteção facial das mulheres turcas é considerada sexista, violenta, e é muito condenada por muitos de nós do mundo ocidental. Mas muitas mulheres do mundo árabe que as usam procuram dar um toque elegante e suntuoso.
Creio que essas belas inventivas das usuárias de burkas provocaram nas usuais de máscaras ocidentais protegerem-se do coronavírus com um “tapa meio rosto” colorido, bordado, combinando com o vestuário, tornando-o um obrigatório acessório de moda. Por isso há lojas de venda de máscaras e mercado onde se pode ver design, do padrão, e das cores mais diversas e até com diminutas pérolas e pedras. Não se privelegia tanto a eficácia das máscaras, mas o modelo e o bordado que, muito frequentemente, a mesma usuária nele trabalhou.
Assim, a máscara deve ficar bem com a roupa que se está usando e o sapato que se calça naquele momento, tornando-se elas um acessório erótico. Mas e para o casal apaixonado, que se dane a máscara, pois o sabor do beijo faz esquecer o coronavirus.
* Professora do PPGL/ Ufes (voluntária), Membro da Academia Feminina Espírito-santense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do ES, da Associação de Professores de Espanhol do ES, e da Academia de Letras do ES, atual presidente.