Por ESTER ABREU VIEIRA DE OLIVEIRA*
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), fundada em 05 de maio de 1954, e a Academia Espírito-santense de Letras (AEL), fundada em 04 de setembro de 1921, são duas entidades irmanadas no desempenho da cultura literária do nosso Estado, com produções literárias e com membros que atuaram nas duas instituições.
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), procura promover eventos e reflexões críticas sobre as manifestações literárias e culturais no Espírito Santo e organiza documentação sobre os principais autores e obras, divulgando-os junto ao público crítico e leitor em geral, e permitindo em sua Biblioteca o acesso à leitura e à pesquisa.
Conforme com esses objetivos da Ufes estão os da AEL, que busca com o seu lema Sempre Ascendere incentivar a cultura literária em todos os seus ramos.
Por isso, ao procurar lembrar o centenário da AEL destaco a Ufes que com a sua política inegavelmente difunde as manifestações culturais do Estado.
Na origem da UFES, encontra-se o nome do acadêmico Carlos Xavier Paes Barreto, um dos fundadores do Instituo Histórico e Geográfico do Espírito Santo em 1916 e membro da AEL, como segundo ocupante, da Cadeira 1, Patrono Marcelino Pinto Ribeiro Duarte, fundador, em 1913, da Faculdade de Direto do Espírito Santo, uma semente geradora da produção cultural do ES, que levará à fundação da UFES.
Quanto à AEL foi em julho de 1921 que Alarico de Freitas, advogado, Elpídio Pimentel, professor, e Sezefredo Garcia de Rezende, jornalista, idealizaram a sua fundação, e a sacramentaram organizando uma reunião, em 31 de julho, no bairro Parque Moscoso, no salão do “Clube dos Boêmios”.
No propósito da criação dessa Academia, foram-se organizando reuniões e, em 14 de agosto, em uma sessão, no salão nobre da Escola Normal, elegeu-se a diretoria e constituiu-se Presidente – Dom Benedito Paulo Alves de Souza, o bispo diocesano. Estabeleceu-se como primeiro Secretário - Elpídio Pimentel, segundo Secretário - Sezefredo Garcia de Rezende, ficando eles incumbidos de redigir o estatuto. Na reunião de 28 de agosto, às treze horas, no salão nobre da Escola Normal foi distribuído o texto do Estatuto, elaborado por Alarico de Freitas para melhor ser discutido. Mas só, no dia 28 de setembro de 1923, às 20 h, com uma sessão magna, no salão nobre da Escola Normal, dois anos após a criação da AEL, ocorreu a instalação solene da AEL com a presença de autoridades locais e estaduais, amplamente noticiada pela imprensa estadual e nos jornais do Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Eram vinte cadeiras, mas em 1939 foi ampliado o quadro dos patronos, na presidência de João Dias Collares Junior, para quarenta cadeiras, como está até a atualidade e desde a fundação da AEL foram nomeados 18 presidentes.
A Ufes/AEL se irmanam não só pelo ideal de educação e cultura literária que defendem e difundem, mas também pelo fato de professores da Ufes, de vários centros e ou pessoas que nela estudaram terem seus nomes elencados na AEL e fizerem parte da história da Academia. Esta enumeração comprova a assertiva: Geraldo Costa Alves, Guilherme Santos Neves, Clóvis Rabello, João Batista Herkenhoff, Neida Lúcia de Moraes, José Miguel Feu Rosa, Miguel Depes Tallon, Gabriel Augusto de Mello Bittencourt, Oscar de Almeida Gama Filho, Luis Busatto Freitas, Miguel Arcanjo Marvilla de Oliveira, Francisco Aurélio Ribeiro, Nelson Abel de Almeida, Pedro José Nunes, Anaximandro Amorim, José Roberto Santos Neves, Adilson Vilaça, Bernadette Lyra e João Gualberto Vanconcellos, sendo os dois últimos e eu Professores Eméritos da Ufes e quatro deles tendo atuado no DLL/Ufes: Francisco Aurélio Ribeiro, Luis Busatto, Bernadette Lyra e eu, como professores e dois tendo sido alunos: Miguel Marvilla e Pedro José Nunes.
A AEL tem a sua sede na Cidade Alta de Vitória, perto do Palácio Anchieta, na Praça João Clímaco, em uma casa que foi gentilmente doada, em 1975, pelo acadêmico e sua esposa Laura Madeira de Freitas Leão. Hoje essa casa é conhecida como CASA KOSCIUSZKO BARBOSA LEÃO, e seu retrato está na estampa do selo do correio do Brasil, comemorando o centenário e num carimbo quando completou 90 anos Na casa são realizadas reuniões, palestras, debates e nela permanecem as obras raras nacionais e estrangeiras na Biblioteca Saul de Navarro, rico acervo para pesquisas, e a AEL criou a medalha Kosciuszcko Barbosa Leão, como uma forma de agradecimento póstumo a este acadêmico.
A AEL conserva da residência dos doadores, no pórtico da casa, a Estátua do Coração de Jesus, como que recebendo os visitantes. Aí está como um respeito dos acadêmicos á fala de Kosciuszcko, como consta na ata do dia 24 de dezembro de 1975, lavrada pelo secretario Aylton Rocha Bermudes, o término do discurso desse generoso acadêmico:
[...] prezados confrades, há um coração maior que os de todos nós, a receber nesta casa a Academia de Letras como sua dona é o Coração de Jesus, exposto sobre o peito de sua imagem, que, em seu altar no pórtico desta sua nova morada, aí lhe estende os braços abertos para estreitá-la com amor, abençoá-la com sua graça e lhe garantir com segurança toda felicidade.
* Ester Abreu Vieira de Oliveira, Professora Emérita da Ufes, Presidente da AEL, Membro de instituições culturais como IHGES, AFESL, APEEES, AITENSO, ABH, AIH.