Ester Abreu Vieira de Oliveira*
A covid trouxe uma maior permanência no interior das casas (ou dos edifícios), afetando, principalmente, as pessoas consideradas de melhor idade, - proceder que se torna a imagem de uma prisão “colorida” ou de “cristal”.
Essa pandemia acarretou, também, o receio de tocar-se. Essa situação me fez lembrar a vida em uma colméia, no sentido de que a rainha (abelha mãe) não sai e as operárias vão para busca do alimento.
Esse vírus tornou uma obrigação cobrir a boca, apagando os beijos com os lábios, situações que me levou a recordar o poema “Colméia” de Federico García Lorca
COLMENA
¡Vivimos en celdas
de cristal,
en colmena de aire!
Nos besamos a través
de cristal!
¡Maravillosa cárcel,
cuya puerta
es la luna!
Federico García Lorca, escritor que fez parte de uma geração, que poderia ser considerada como uma “idade de ouro”, em Granada, no dia 18 de agosto de 1936, há precisamente oitenta e cinco anos, devido à uma déspota, criminosa e invejosa ação, foi fuzilado e seu corpo desapareceu, fisicamente, pois não foi possível ser encontrado, contudo, sua obra permanece, provando que um poeta não morre, e sua morte, num contexto europeu, transformou-se em símbolo de luta social contra o despotismo.
Se foi curta a sua vida de 1898 a 1936, sua produção cultural foi fecunda para a literatura espanhola de sua época que, depois de Cervantes e Calderón, aparece com todo o brilho.
Federico, recitador, conferencista, músico, desenhista, dramaturgo, poeta, e, segundo seus biógrafos e amigos, era muito alegre e simpático.
Como poeta é um “duende” da palavra e da imagem elaborada. Ele apresenta uma poesia entre o antigo e o novo de uma melhor qualidade e suas peças teatrais, com temas diversos, entre o trágico e o poético, correm o mundo dos palcos. Entre as muitas vezes representadas está a sua trilogia: “Bodas de Sangue” (1933), “Yerma” (1934) e “A Casa de Bernarda Alba” (1936), que dentro de nossas casas, atualmente, por youtube, podemos assistir a alguma reprodução, inclusive em português.
* Professora Emérita da Ufes, Presidente da Academia Espírito-santense de Letras, membro de instituições acadêmicas e culturais e da Academia Feminina Espírito-santense de Letras