Por Pedro José Bussinger*
Analisa neste texto em resenha o livro Capitalismo em Debate – Uma conversa na Teoria Crítica – das filósofas contemporâneas Nancy Fraser e Rahel Jaegii, originalmente publicado por Polity Press, 2018; No Brasil foi publicado pela Boitempo já no final de 2020. Um livro com 250 páginas.
Nancy Fraser, americana de nascimento, é professora titular da cátedra Henry A. and Louise Loeb de ciências políticas na Na New School for Social Research.
Rachel Jaeggi, Suiça de nascimento é professora de Filosofia na Universidade Humboldt em Berlim.
Temos variadas análises críticas do capitalismo. A crítica fundante que norteou diferentes análises do modo de produção capitalista é aquela estabelecia no CAPITAL de Marx e centrada no processo de exploração da força de trabalho. Assim o segredo da compreensão desse sistema de produção estaria na análise do processo de exploração e expropriação. Os bens econômicos e sociais produzidos passariam a não pertencer ao trabalhador. Aqui a análise crítica clássica do sistema se centraria no processo de produção. Lembramos aqui que no Prefácio à Crítica..., Marx indica que sobre a base de um sistema produtivo – infraestrutura - ergueu-se uma complexa rede de instituições – superestrutura. Esta cumpriria a função ideológica de camuflar o verdadeiro significado da base estruturante. Esta afirmação de Marx norteou muitas análises consideradas clássicas que centraram as formulações de lutas estratégicas somente sobre o processo de transformação do sistema produtivo.
As análises que empreendem Nancy Fraser e Hahel Jaeggi no presente livro “CAPITALISMO EM DEBATE – UMA CONVERSA NA TEORIA CRÍTICA,” desdobram-se em considerações da importância que cumpre, sem enfraquecer o aspecto produção, o fenômeno da reprodução, em suas várias formas, para a manutenção da exploração e da apropriação, de forma sistêmica. Afirmam as autoras que a reprodução do capital, no capitalismo constituiu formas institucionalizadas, nos vários tipos sistêmicos que o capitalismo sofreu no processo de constituição histórica. A argumentação corre no sentido de que formas institucionalizadas de cuidado como a família com a função do feminino e ou de gênero, formas institucionalizadas de racismo e preconceitos identitários cumpriram e cumprem importantes funções na manutenção do sistema capitalista explorador.
O capitalismo é aqui caracterizado por três elementos centrais: propriedade privada e divisão de classes; mercado livre; e dinâmica de acumulação de capital; Este sistema como uma totalidade atravessou as seguintes fases: capitalismo mercantilista, capitalismo administrado pelo Estado, capitalismo liberal e capitalismo financeirizado.
Todas as fases foram marcadas por crises (as crises são inerentes ao sistema) e a saída de uma crise implicava a entrada em uma nova fase que geraria outra crise. Mas Marx já tinha apontado a capacidade do capitalismo em se adaptar ou encontrar saídas para as crises. O capitalismo tem, portanto, história. Assume relevância na luta contra o capitalismo, segundo as autoras, a dinamização das “lutas de fronteiras”, ou sejam, lutas de gênero, identidades indígenas, lutas contra o racismo, etc., consideradas em algumas formulações estratégicas como lutas não centrais. As autoras são feministas marxistas que receberam influxos analíticos da Escola de Frankfurt. Esta escola, dentre outras funções e através de várias análises, notabilizou-se em encetar uma reformulação critica de alguns postulados centrais do materialismo histórico e dialético (marxismo). Vale a pena examinar.
*Professor, Mestre em Filosofia.
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