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Postado por: GUILHERME NARCISO DE LACERDA
20 NOV. 2021 às 15:40
O artigo da Profª Erika Leal e do Profº Guilherme Pereira tem várias razões para ser comentado e valorizado.
O texto debulha o tema da gestão fiscal dos governos subnacionais e demonstra que o conceito de superávit fiscal não deveria ser incensado como é hoje em dia, nos tempos de predomínio de discursos políticos e econômicos rasos, que não prezam por ir além do que o senso comum midiático impôs como verdades absolutas.
É bom lembrar que o conceito de superávit primário é uma fruta que só existe por aqui. A contabilidade pública nacional foi sendo moldada nas últimas três décadas (tempo da redemocratização) para tornar intocável os debates em torno dos juros da dívida pública. Assim, a equiparação do montante de despesas orçamentárias, exceto juros, com o total de receitas públicas foi trabalhada de forma ardilosa, incutindo nos corações e mentes de todos que o melhor para o gestor público é gerar superávits altos para não comprometer a acumulação financeira. Uma estupidez que analistas da mídia dominante e representantes dos circuitos financeiros souberam travestir de verdade absoluta.
Só de enfrentar esse tema, o artigo já demonstra o seu valor. Mas, além disso, há nele um embrião de pesquisa que deveria ser aprofundado. O esforço de associar os níveis de pobreza de estados da federação com os números de sua gestão fiscal estimula a continuidade de análises, e isso não é pouco.
É oportuno realçar, como os dois autores lembram, o argumento mítico que prevalece na maioria dos cursos de economia (e áreas próximas) sobre conceitos econômicos e o endeusamento do neoliberalismo.
Para não ir longe fiquemos com as comparações de resultados orçamentários públicos com orçamentos domésticos. É grotesco constatar muitos analistas - que também se dizem professores – escrever diagnósticos tão bobos com ares de lógicas robustas. Chega a ser irritante ver essa argumentação cair no senso comum de empresários, gestores públicos ou privados e profissionais em geral. A comparação é tão fácil de ser assimilada quanto ela é falsa, ingênua, e camufla os mecanismos de funcionamento da economia moderna. O artigo enfrenta este debate e se posiciona como um marco contra a corrente. Eles estão certos.
E para os que ainda embarcam naquelas falsas lógicas fica aqui uma máxima do singular economista Michael Kalecki, que nos brindou com a frase de que “os capitalistas ganham o que gastam, enquanto os trabalhadores gastam o que ganham”. Para aqueles que não alcançaram a dimensão do argumento recomenda-se que se abram para o debate e para a reflexão. A primeira lição a recordar está lá nos princípios de macroeconomia e da contabilidade nacional; sugere-se conhecer as existências e os conceitos de “multiplicador fiscal” e “multiplicador keynesiano”. Isso não é exigir muito. A dinâmica econômica não é asséptica e simples como os discursos vazios dos falsos entendidos do dia a dia fazem crer. É essa a seara que o artigo enfrenta e chama ao debate.
Que os dois autores avancem em novos textos, aprofundando os temas lançados.
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Postado por: Roberto
13 NOV. 2021 às 07:45
Esclarecedor !!!
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Postado por: Ricardo Coelho dos Santos
12 NOV. 2021 às 08:48
Perfeito!
Há uma ilusão de que todos empresários e financistas em geral serão bons gestores públicos.
Por outro lado, muitos gestores públicos estão mais preocupados com seu curral do que com a fazenda inteira, buscando garantias ilusórias de permanência.
Infelizmente, os financistas, empresários e o povo do curral berram mais alto que a real necessidade de uso racional e justo do capital.
A discussão sobre a PEC dos precatórios é a prova disso.
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Postado por: Alvaro Junior
11 NOV. 2021 às 21:47
Formado em meio ao “liberalismo chicaguense”, é inimaginável ver Guedes seguir qualquer ponto da cartilha keynesiana sobre o papel decisivo o papel do gasto governamental para alavancar o investimento privado e retomar mais rapidamente o caminho do crescimento. E nessa perspectiva, o artigo chama atenção para o fato de que não se trata de geração de déficits para financiar gastos públicos visando retomar os investimentos privados, mas sim, de gerar superávits, pois este tornou-se parâmetro do Tesouro para avaliar a boa gestão financeira de governos subnacionais. Um critério absurdo. Como denuncia o artigo, tudo para favorecer o capital financeiro, garantindo-lhe a matéria prima para sustentação de sua dinâmica de lucros absurdos: o dinheiro, principalmente advindo do setor público.
Nesse contexto, o pobre que se “exploda”. O capitalismo pavimentado pelo liberalismo regido por interesses do sistema financeiro é o pior dos mundos, assumindo, do ponto de vista social, traços do ideário “malthusiano” e, porque não, “hayekiano” . Do primeiro, deduz-se que o pobre é um mal para o desenvolvimento da sociedade, pois ao não ter renda suficiente para sobreviver, iriam recorrer ao Estado, o que implicaria em gastos e redução de superávits e menos dinheiro disponível no sistema financeiro. Enfim, os “ricos capitalizam seus recursos, os pobres consomem tudo” (entrevista de Guedes à Folha de SP – 19/nov/2019). No segundo caso, temos uma pitada hayeckiana,, que vê benefícios na existência da pobreza, pois o receio de chegar a tal situação, faz com que trabalhadores com baixos salários, busquem melhorar suas aptidões, tornando-se mais produtivos,
Por fim não poderia deixar de comentar que o artigo esclarece o quanto “esdrúxulo” é o argumento do governo justificando o corte de gastos para evitar déficit público como se fosse uma casa qualquer. Na verdade, mostra toda a falta de respeito do governo para com o povo brasileiro. enquanto cidadãos, como se fosse um bando de imbecis. Uma afronta à cidadania.
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Postado por: durval
10 NOV. 2021 às 11:42
Prezado Guilherme , parabéns pela contribuição. Excelente reflexão, sem dúvida vai ajudar aos gestores nas suas ações junto a sociedade. Obrigado. Abraços
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Postado por: José Eduardo
09 NOV. 2021 às 19:01
Artigo BRILHANTE!!!!!
Dose necessária de lucidez e realidade.
Pena que não é pensamento majoritário.
Não posso entender que a escolha pela miséria pode gerar prosperidade.
Parabéns aos articulistas.
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Postado por: ERLON JOSE PASCHOAL
09 NOV. 2021 às 12:09
Muito bom, Guilherme, esta explanação nos ajuda a entender as falsidades propagadas por governantes inescrupulosos. É claro que o tal do “ajuste fiscal” e a obsessão pelo superávit favorece sobretudo aos bancos. E como dizia o Darcy Ribeiro – a pobreza aqui é um projeto, afinal os lucros excessivos, os baixos salários, o desemprego, a desvalorização da moeda, a dolarização de determinadas atividades econômicas, a inflação de volta, a elevação desenfreada dos preços, o fim das políticas inclusivas, a extinção do Bolsa Família e outras cositas más fazem parte da política deste governo de concentrar renda, aumentar a miséria, entregar de bandeja as empresas e bancos nacionais – com a Petrobras e o Pré-sal na dianteira - e fazer do país uma terra arrasada para quem vier depois. Considero isso algo friamente calculado pelos mentores neoliberais extremistas. E tem toda a razão: comparar o governo a uma casa ou a uma empresa, é ridículo, serve apenas para enganar os incautos.
Bem, você entende de economia bem mais do que eu. Falo apenas como um cidadão.
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Postado por: ANDRE LUIZ MOREIRA
08 NOV. 2021 às 19:43
muito bom, Professor Guilherme Pereira!
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Postado por: Adolfo Breder
08 NOV. 2021 às 15:52
Como leigo da temática da economia, principalmente da MACRO, eu não teria como relatar tão claramente o que este artigo nos auxilia a compreender. Uma aula!
Politicamente, percebo um governo que não representa o povo e suas prioridades. Advoga um estado mínimo, terceirizando responsabilidades para quem visa o lucro e não o bem-estar.