Por Ricardo Coelho dos Santos*
Estou longe de ser classificado como um Educador. Não sou profissional da área, embora já tenha dado alguns cursos e algumas aulas, felizmente me saindo bem no meu desempenho.
Porém, há quase cinquenta anos trabalhando com Educação no Escotismo, o maior movimento de educação não formal do globo, permito-me expor algumas observações e, com essas, tenho trocado muitas ideias com professores e mestres em Educação assim também com os melhores e mais bem formados Chefes Escoteiros que conheço.
Quero aqui mostrar o que senti numa rápida visita que fiz à University of Missouri, na cidade de Columbia, nesse estado. É uma universidade famosa pelo seu time de futebol americano, o Tigers, e por ser a alma mater do desenhista Mort Walker, criador do Recruta Zero. Lá há muitas referências ao personagem, inclusive com partes do bar que ele frequentava na cidade, The Shack, algumas estátuas, histórias e outras referências. Inclusive, cita-se que as personagens da fase acadêmica do eterno soldado são baseadas em pessoas reais.
O meu guia é um experiente e qualificado Chefe de Escoteiros nos Estados Unidos e também um antigo aluno da Universidade. Me mostrou os vários departamentos, a história de cada uma das alas, a cantina, as homenagens ao desenhista e ao maior dos técnicos de futebol americano que eles tiveram: Donald Burrows Faurot.
Confesso que me senti humilhado. Tanto diante o enorme orgulho com que ele me apresentava a sua tão querida escola como diante da imensa organização, disposição dos departamentos, respeito institucional, limpeza, ordem, facilidades e atividades à disposição dos alunos e professores. E lá ainda tem restaurantes, pizzarias e academias e uma loja onde encontrei vários produtos com o símbolo na universidade e do time de futebol. No centro comunal, onde se vende café, encontrei muitos alunos estudando com afinco em várias mesas, numa área coberta imensa e muito bem cuidada.
Nos automóveis que se vê pela estrada, encontramos protetores das placas de identificação escrito Mizzou, como eles chamam carinhosamente o local.
Eu sou um orgulhoso formado pela Universidade Federal do Espírito Santo, vibro ainda hoje pelas suas conquistas e, claro, tenho boas razões para isso. Fui considerado um bom engenheiro na minha vida profissional e devo isso à minha querida UFES e ao antigo Setor de Ensino da Bahia, o órgão da Petrobras encarregado na formação dos Engenheiros de Petróleo. Mas confesso que fiquei com meu orgulho jogado para baixo quando conheci a Universidade Federal de Viçosa, que academicamente creio não dever à UFES em muita coisa, mas com uma estrutura de instalação, relacionamento comunitário, facilidades e eventos que deixam a minha Escola para trás em grande distância. Porém, na Universidade do Missouri, senti que temos muito ainda a caminhar no nosso país.
Foi daí que, nos meus pensamentos, imaginei que a educação possui três princípios que a estabelecem firmemente nas pessoas a quem ela deve afetar. Como disse, não sou especialista na área, não sei se alguém já citou isso e nem vou procurar saber, pois se já foi dito, pergunto por que não foi aplicado. Se não foi nada escrito sobre isso, por que um leigo como eu descobriu isso? É essa a questão!
Esses princípios por mim imaginados estão baseados no momento da educação: antes, durante e depois.
Antes: o que leva um jovem e mesmo um adulto a correr atrás dos seus estudos com vontade, que vem a ser a forma mais eficaz de ensino, é a motivação. Isso já foi dito pela grande educadora italiana Maria Montessori e é amplamente aplicado no Movimento Escoteiro. Um erro muito comum, citado de boca cheia por especialistas em dar palpites baseados em muita coisa não prática, é que “ninguém motiva ninguém”. Se isso fosse verdade, as ações de liderança e condução educacional iriam tudo para o lixo. Dizem que se cria um ambiente favorável para que as pessoas se auto motivem. Então, resumindo, se motiva, sim! Generais motivam soldados, professores motivam alunos e escolas motivam os alunos a quererem frequentá-las. Para isso, escolas devem possuir um nome forte, uma tradição; algo que faz com que os alunos a procurem a ponto de mudarem de seus domicílios para irem atrás. Conhecidos meus se mudaram para Massachusetts para frequentarem Harvard. Não é para qualquer um, é verdade, e, quem conquista o direito de frequentá-la o faz com gosto de uma vitória mais que justa! Portanto, nossas faculdades devem ir muito além de meras propagandas de outdoor e investirem em mostrar resultados reais dos sucessos de seus alunos, e isso deve vir até mesmo das suas exigências protocolares, que antes de ser um exercício de elitismo, é um atestado do que se espera do futuro dos seus alunos.
Durante: um ambiente acadêmico conduzido a sério por todos os frequentadores, com respeito às profissões almejadas, é o mínimo que os alunos e os professores merecem. Mas os estudos, a ciência, a pesquisa, os debates e as demonstrações práticas e teóricas não são os únicos quesitos que formam o clima necessário. A história de uma faculdade também tem outras conquistas, que vão desde as desportivas, e nisso os norte-americanos exploram muito bem, aos locais que os alunos frequentam, principalmente alojamentos e salas de aula, além de regulamento da instituição, organização administrativa e limpeza do estabelecimento. Tudo forma outro nível de ambientação muito levado em conta, podendo até ser um diferencial de escolha. Isso, sem contar com a segurança interna, as vocações sociais dos alunos e tudo o mais que pode atrair quase tanto quanto à qualidade da sua formação. Isso quer dizer práticas religiosas, teatrais e literárias, viagens científicas e culturais, parcerias com empresas em pesquisas e facilidades nas buscas por estágios e empregos, e assim por diante.
Depois: é a qualidade do profissional o que melhor define uma instituição acadêmica. Mas é mais que isso: é aquela pessoa que cita o local onde se esforçou para se formar com orgulho desmedido. É o profissional famoso que pode frequentar sua escola para dizer: eu me formei aqui! É o hall da fama, o livro dos alunos, os diplomas bem elaborados pendurados em lugares em que todos possam contemplar, é o encontro de ex-colegas com novos alunos e seus professores, é o currículo que ninguém duvida e todos elogiam.
Portanto, além de todas as teses educacionais que servem tanto para crianças como jovens adultos acadêmicos, nas suas devidas proporções, esses três momentos, na minha leiga opinião, formam princípios educacionais que garantem a perpetuidade de gerações atrás de gerações de se manterem avançadas, atualizadas, profissionalizadas e com orgulho de tudo isso.
E, sim, mesmo me sentindo humilhado, ainda tenho orgulho de ser Engenheiro da UFES. E lutarei para ter de aumentar as razões para isso.
*Engenheiro e Escritor.