Quando visitávamos o Memorial Lincoln, em Washington, D.C., lembramos que em determinado momento de sua existência política, o próprio Abraham Lincoln asseverou: “se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.
Incrível como uma frase dita há mais de 150 anos ainda hoje é tão atual na política e fora dela.
Em nossa passagem pela administração pública, logo descobrimos que alguns se achegavam a nós, atraídos pela temporária e incorreta sensação de que iriam desfrutar parcela de poder, hierárquico ou político. A lealdade desses era apenas circunstancial.
Evidentemente que a política nunca foi um campo para neófitos, nem tampouco para altruístas ingênuos, pois ela, em alguns, maximiza os interesses, aguça a vaidade e desperta o pseudo empoderamento.
Assim, os ciclos de poder são todos, invariavelmente, fugazes e não transcendentes à luz da História.
Um dos mais tristes momentos de nossa vida pública foi quando experimentamos “amigos” trocando a lealdade e o companheirismo pela busca de posições e conforto em cargos de efêmera duração.
Alguns dos que haviam recebido projeção, espaço e lugar em nosso entorno, da noite para o dia, se transformaram em seres distantes, indiferentes e em oposição à tudo que até então haviam vivido à nossa sombra.
Desse modo, entendendo a volatilidade da interesseira amizade e a ação do imã do poder, nos mantivemos aprumados em inabaláveis princípios, pois a lealdade supera os interesses, sempre.
Esses inaptos à amizade, por não terem luz própria, jamais deixaram a mesmice, agradando, docilmente, a mandatários sazonais, que com seus “charutos” esbaforavam arrogância e desprezo pela causa da ordem pública.
Sabe-se que com o tempo, ninguém se mantém pela conveniência de seus interesses, mas somente pela ousadia de seu caráter. Embora poucos, esses últimos, existem!
Assim, para os algozes da ética e da amizade resta o julgamento moral e o estridente canto das arapongas em suas almas, durante as madrugadas insones e de auto-juízo, ouvindo de dentro de si mesmos, ecoar uma voz dizendo que a honestidade aos princípios é maior do que a interessada amizade pelo poder.
Enfim, essa é uma questão de caráter, tal como disse Lincoln.
Vitória - ES, 30 de outubro de 2022.
Júlio Cezar Costa é coronel da PMES e Consultor Sênior do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
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