Vanda Lúcia Breder
São eternos e garantidos
e estão pregados nesse mundo -criança,
dizendo sim ou não,
castigando suavemente, às vezes fazendo medo,
ou contando histórias,
que pulam de gavetas cheias de naftalina.
Não desaparecem
e se contêm em cada tarefa, ao menor dia-a-dia.
Sabem de tudo que a gente faz.
Têm cara feia ou boa e tiram retrato e fazem política,
fazem doce, crochê,
moram em São Paulo, em Minas e no interior.
Suas casas são fortalezas dos nossos sonhos.
Pai e mãe. Avós e tios. Tios-avós.
Estão sempre a postos, enquanto o medo da gente
sonha com aparições.
Eles podem rir, ou desmentir, ou colorir a fantasia.
As crianças crescem sem perceber.
Já são homens? Mulheres?
Diante dos eternos, são meninos fazendo arte. A vida inteira.
E cada geração repete a vida - exata e igual.
É tão mágico, tão intenso e bom,
que é difícil acreditar que eles sejam assim como cristais
e se quebram - devagar, aos poucos ou de uma só vez.
Choramos e temos medo.
Eles não: consolam. Resolvem. Têm a vida nas mãos.
Nossas vidas. Como deuses.
E quando se quebram, ficamos assim perdidos
e abraçamos o corredor no escuro,
nos entreolhando, como se a bruxa viesse a qualquer momento.
Ao se quebrarem, eles continuam deuses
a nos doar as zangas, carinhos, sustos e magias.
(Menos a eternidade).
E todos ficamos crianças e todos estamos com medo.
Órfãos de repente.
E fugimos pra nossas vidas, assustados,
tentando vivê-las o mais rápido possível.
E o corredor - sem o brilho dos cristais -
parece escuro demais.