Por Erlon José Paschoal *
Aproveitando o encontro recente entre Lula e Zelensky na Assembleia-Geral da ONU valeria a pena refletir um pouco sobre o conflito armado na Ucrânia, no contexto da ampliação forçada da OTAN.
Depois do golpe em 2014 na Ucrânia, pouco antes do golpe no Brasil, financiado e apoiado pelos EUA, assumiu o governo um comediante sem graça, o patético Zelensky, famoso na TV local, para dirigir o país e reunir diversos grupos nazistas e simpatizantes com o intuito de eliminar minorias russas na região do Donesk, onde quase 30 mil pessoas foram assassinadas pelos tais grupos militares e paramilitares treinados e armados pelos EUA, e se integrar a OTAN. Ficou evidente que se tratava de uma marionete, um fantoche a serviço do Otanquistão, comandado pelos EUA, uma espécie de “paladino defensor dos valores democráticos do Ocidente”, visando à desestabilização da Rússia e ao enfraquecimento econômico da Europa, como ficou claro em seguida com o atentado americano contra o Nordstream 2, a canalização que servia a Europa com gás russo e era o motor do desenvolvimento econômico de inúmeros países da região, sobretudo da Alemanha.
Portanto, já ficou evidente que os EUA querem a guerra, querem criar zonas de conflitos permanentes na fronteira com a Rússia e também com a China, querem testar suas armas novas, querem submeter os outros povos a seus objetivos, querem usurpar as riquezas e as conquistas de países soberanos, querem dominar o mundo sozinhos e se apossar de tudo o que os outros países possuem. Por isso temem tanto a multipolaridade e a ascensão dos BRICS.
Ao mesmo, todos se perguntam: por que vários governos europeus obedecem às ordens de psicopatas americanos sedentos de sangue e de guerra querendo destruir a Rússia usando a Ucrânia como pretexto? Que obediência cega é essa a militares e políticos obcecados pelo poder, que desprezam a vida humana e a soberania de outros povos? Porque aceitam a expansão doentia do Otanquistão, uma organização cada vez mais ameaçadora e perigosa, não só em relação a Rússia e a Eurásia, mas ao mundo inteiro.
Temos todos de construir condições para um mundo que viva em paz! Precisamos assumir posições claras contra qualquer tipo de guerra, de usurpação de territórios e de riquezas alheias, de colonização, de escravidão e de demonização dos supostos inimigos. O momento agora é de reflexão e de busca de uma mudança no mundo, de um equilíbrio que seja melhor para todos. Uma utopia? Com toda a certeza. De um lado, temos a mídia ocidental manipuladora e pessoas hipócritas e cínicas que escolhem com que se comover, que no fundo não são contra as guerras e a lógica que as cria; que pouco se importam com as milhares de pessoas que foram mortas no Iraque, na Síria, no Afeganistão, na Somália, na Líbia, no Yêmen ou na Palestina; com as milhares de pessoas que são mortas todas as semanas nas pequenas guerras na África, financiadas pelas grandes potências. Que vidas importam, afinal? Black lives matter?
No tocante ao embargo criminoso contra Cuba há décadas ninguém fala em “direitos internacionais”; e com relação ao embargo escandaloso contra a Venezuela, a Síria, ao Irã e ao Afeganistão, que produz fome e miséria, menos ainda. Sobre a invasão e a construção de um campo de tortura em Guantánamo, em território cubano, ninguém fala em “soberania territorial” ou em “devolução do território invadido”. Ou seja, são sempre dois pesos e duas medidas: os EUA podem tudo, o que e com quem quiserem, os outros países não podem nada. Os EUA têm mais de 700 bases militares em territórios de outros 80 países, o que caracteriza invasão e/ou apropriação indevida, uma espécie de “intimidação em troca de proteção” (como fazem as máfias). Uma lógica perversa de dominação que segrega povos e classifica arbitrariamente as nações.
Os EUA são o país que mais guerras executou e promoveu nos últimos 50 anos; que mais países atacou, invadiu e destruiu; que mais golpes e ditaduras financiou e apoiou; que mais se apossou de territórios alheios; que mais bases militares espalhou mundo afora e nunca sofreu nenhuma sanção, nenhum embargo de ninguém e nenhuma moção de repúdio. Para os norte-americanos todos os países são inimigos que devem ser dominados, combatidos, atacados, invadidos, em gradações diferentes, alguns mais odiados, outros menos, mas todos precisam ser adestrados para obedecê-los. Como mudar esta lógica perversa?
Além disso, através do ataque terrorista contra o Nordstream 2, os EUA mataram dois coelhos em uma cajadada só: atingiram a economia russa e enfraqueceram muitíssimo os países do Otanquistão. Um golpe de gênio? E muitos governos, como o da Alemanha sobretudo, aceitam tudo isso passivamente e ainda vociferam discursos desrespeitosos e agressivos contra a Rússia e contra a China, e só falam em envio de armas a Ucrânia, jamais em negociações de paz, como uma espécie de cadela fascista sempre no cio, o que representa um perigo e uma ameaça de fascistização em vários países europeus.
Vale mencionar também que sanções econômicas diversas contra países que “desagradem” aos EUA precisa ser considerado um crime internacional contra a liberdade e a soberania dos povos. Afinal provoca a miséria, a escassez e a morte. Por isso negociar a paz é tão necessário, como propõe Lula e vários outros governantes, e construir novas formas de relacionamento internacional.
É disso que se trata afinal: recriar uma nova ordem no mundo, onde as invasões, os golpes teleguiados, a ocupação de territórios alheios e o estímulo ao ódio entre os povos não tenham mais vez. Essa é a luta de todos os que acreditam na democracia, na justiça e na liberdade. Não sei se viverei para ver isto, mas temos de dar a nossa contribuição a esse processo, de alguma forma.
* Gestor cultural, Diretor de Teatro, Escritor e Tradutor de alemão.
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