Por Fabrício Augusto de Oliveira*
A aposta agora é do Bradesco. Em entrevista recente à Revista Veja, o economista-chefe do banco Bradesco, Fernando Honorato, afirmou que o Brasil corre o risco de entrar em recessão no segundo semestre de 2025. Entre os fatores que podem contribuir para isso, ele apontou a vigência de juros elevados, a desaceleração do consumo e a queda nos investimentos como os principais responsáveis por uma possível retração econômica. Sua previsão é a de que, em virtude da combinação desses fatores, o PIB será ligeiramente negativo nos últimos trimestres de 2025. Honorato tem lá suas razões para este prognóstico mais pessimista.
De um lado, considera que os juros devem se manter em patamar elevado durante todo o ano, podendo chegar a 15,25% devido à inflação persistente que tem se mostrado resistente à queda, com o mercado projetando, a cada semana, maior pressão dos níveis de preços, estimados no Boletim Focus, de 17 de fevereiro, em 5,60%, acima do teto de da meta de 4,5%. A combinação de juros elevados com alta inflação não só reduz o poder de compra da população como torna o crédito mais caro, desestimulando o consumo e o investimento, que já se encontra em níveis reduzidos.
De outro, enxerga também com pessimismo a questão fiscal que, em certa medida tem sustentado o crescimento dos últimos anos, mas que continua piorando na sua análise, e que vai exigir maior controle dos gastos do governo se se pretende restaurar a confiança do mercado na sua capacidade de solvência. Isso significa que, se o governo quiser, de fato, que essa confiança seja restabelecida, terá de implementar políticas de maior austeridade, renunciando a um maior crescimento, diminuindo a força do consumo ante uma estrutura de oferta que não cresce na mesma velocidade. O Relatório Focus, do dia 17 de fevereiro, também já começa a projetar um PIB mais baixo em 2025, com seu crescimento tendo caído de 2,06% há duas semanas para 2,01%.
Pode ser que nada disso aconteça e que o governo aspirando a um novo mandato e, tendo para isso, de aumentar seus níveis de popularidade, descumpra as regras do arcabouço fiscal e continue injetando gastos públicos na veia da economia com o objetivo de sustentar o crescimento. Do ponto de vista da economia, embora o resultado, em termos de seu desempenho, possa ser, no curto prazo, positivo, no médio e longo prazo as fricções atuais só tenderão a aumentar, especialmente no que diz respeito à deterioração das contas públicas e do processo inflacionário, duas peças centrais do modelo ortodoxo.
O que não se pode contar neste ano para garantir uma maior taxa de crescimento são juros baixos, inflação declinante, maior força da demanda externa e equilíbrio fiscal confiável. Os primeiros, ainda devem continuar subindo para trazer a inflação no mínimo para dentro da meta, podendo estes chegarem a níveis proibitivos para o consumo e o investimento. A força da economia internacional deve arrefecer ainda mais porque, junto com a desaceleração da economia chinesa e a estagnação da União Europeia, notadamente da Zona do Euro, o fator Trump deve convulsionar ainda mais não só a economia norte-americana como a mundial.
Para o governo essa não é uma boa notícia. Apesar de ter conseguido garantir um crescimento médio de 3% nos anos de 2023 e 2024, de ter reduzido a taxa de desemprego para algo em torno de 6%, seus índices de popularidade têm despencado na proporção em que aumenta a desaprovação pela população às suas políticas. O que pode ser explicado, pelo menos em boa parte, pela inflação de alimentos, a que mais afeta o bolso dos brasileiros de menor poder aquisitivo. E aí é que está o busílis.
Se a inflação corrói os ganhos obtidos com o melhor desempenho da economia e o aquecimento do mercado de trabalho, a economia deixa de ser a principal variável que influencia a visão que a população tem do governo, o que pode ser confirmado pela vitória de Trump sobre Biden nos Estados Unidos. Sendo isso verdade, o governo se encontra naquela situação que ninguém gosta de estar, a qual diz que “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Explica-se a razão.
Caso insista em manter o trunfo de crescimento econômico e do baixo desemprego para reverter o declínio de sua popularidade, correrá o risco de ver aumentarem as fricções econômicas do atual modelo econômico, colhendo mais inflação juntamente com uma maior deterioração das contas públicas, o que, na visão do pensamento dominante, tenderá a interditar, em algum momento, os investimentos e o frágil crescimento. Se optar por implementar uma política de maior austeridade estará abrindo mão deste crescimento e renunciando ao principal trunfo que ainda tem sustentado minimamente sua popularidade. Este, o dilema.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura da UFES (ES), articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “A economia política clássica: a construção da economia como ciência”, publicado pela Editora Contracorrente, em 2023.
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