Por Fabrício Augusto de Oliveira*
Quando o Banco Central, na gestão de Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, aumentava a taxa de juros, a reação do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, era imediata, taxando-o de inimigo do povo brasileiro e carrasco de atividade produtiva. Depois de ter sido substituído por Gabriel Galípolo, indicado de Lula, e contando com maioria entre os membros do Comitê de Política de Política Monetária (Copom) do Banco Central, a taxa de juros foi elevada duas vezes em 1 ponto percentual, de 12, 25% para 14,25%, por unanimidade, e Lula deixou de esbravejar contra essas decisões, considerando que Galípolo tem feito o que é possível na sua administração.
Na primeira vez, em janeiro de 2025, quando a Selic foi elevada para 13,25%, Lula, em entrevista a jornalistas, continuou atribuindo essa responsabilidade a Campos Neto, argumentando que essa decisão de aumentá-la mais duas vezes em 1 ponto percentual havia sido anunciada ainda em sua gestão, estando, portanto, precificada, como se Galípolo fosse dela prisioneiro. Nas suas palavras: “Galípolo não pode dar cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra. Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente, Roberto Campos Neto”. E, “eu tenho certeza de que ele vai criar as condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor”.
Na segunda, no dia 19 de março de 2025, a Selic foi aumentada para 14,25%, também por unanimidade, mesmo como Copom contando com sete dos seus nove membros nomeados pelo governo Lula, sinalizando que continuará elevando a Selic, embora em “menor magnitude” na próxima reunião a ser realizada maio. Dessa vez, Lula andou se esquivando de fazer comentários sobre essa nova alta e preferiu afirmar que, apesar disso, desafiando os teóricos da ciência econômica, o Brasil iria crescer acima de 3% por acreditar, principalmente, na ação do governo, que estava garantindo crédito para as pessoas tomarem dinheiro emprestado, aprovando a correção do salário mínimo acima da inflação com aumentos salariais também melhores.
No dia 07 de maio, o Banco Central voltou novamente a aumentar a Selic em mais 0,5 ponto percentual, elevando-a para 14,75%, o maior nível registrado desde 2006. De Lula, não seu ouviu nenhuma queixa sobre este aumento, embora a Central Única dos Trabalhadores (CUT) tenha soltado uma nota condenando a decisão como uma política monetária asfixiante para a economia, que privilegiava os interesses financeiros em detrimento do desenvolvimento nacional e dos interesses do povo brasileiro. Na nota, destacou, ainda, que o aumento de 4,25 pontos percentuais na Selic, de setembro de 2024 a maio de 2025, gera um impacto no custo adicional da dívida de R$ 212,5 bilhões, exigindo o desvio de recursos para cobrir esse custo, visando impedir o seu crescimento como proporção do PIB, recursos que poderiam ser gastos para oferecer maiores e melhores serviços para a sociedade.
Não tendo decretado o fim do ciclo de alta dos juros, nem de que dará início a um novo ciclo de sua redução a partir da próxima reunião do Copom a ser realizada em junho, o Banco Central não se comprometeu, assim, com o próximo passo que dará, podendo tanto aumentá-la, como mantê-la ou reduzi-la, em função da avaliação a ser feita sobre a evolução do cenário internacional até lá e do nível de incertezas reinantes na economia mundial e brasileira. Ou seja, por enquanto permanece como uma grande incógnita o as decisões que serão tomadas pelas autoridades monetárias sobre o nível dos juros no Brasil que são, em termos reais, um dos mais altos do mundo, uma variável central que é decisiva para a tomada de decisão dos agentes econômicos sobre o consumo e o investimento e, portanto, para o crescimento econômico, objetivo principal do governo Lula.
A passividade de Lula frente à elevação dos juros sob o comando de Galípolo, por ele indicado, revela que a irritação que demonstrava quando Campos Neto trilhava a mesma trajetória, que essa não era decorrente do interesse com que o mesmo tratava o sistema financeiro, como ele argumentava, mas do fato de o mesmo ter participado dos quadros do ex-presidente, Jair Bolsonaro, seu desafeto. Galípolo, por sua vez, pode atuar para aumentar os juros como bem entender, sem sofrer qualquer censura do presidente, contando, inclusive, com o seu aval para derrubar o consumo e o investimento e, consequentemente, a atividade econômica.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura da UFES (ES), articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “Karl Marx: a luta pela emancipação humana e a crítica da Economia Política (1818-1883)”, publicado pela Editora Contracorrente em 2025.
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