Fabrício Augusto de Oliveira*
Bolsonaro está passando de novo o Pix. Segundo o ex-ministro do Turismo, Gilson Machado, responsável pela iniciativa, Bolsonaro precisa de ajuda para pagar advogados, médico e ajudar o filho, Eduardo Bolsonaro, que fez as trouxas, licenciou-se de seu cargo de deputado na Câmara Federal e foi morar nos Estados Unidos, temendo ser preso no Brasil.
Não é a primeira vez que Bolsonaro pede ajuda financeira pelo Pix. Em 2023, usando os mesmos motivos, faturou R$ 17 milhões, segundo o Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Se isso é verdade, não se conhece os tolos que jogaram dinheiro na sua conta. Mas, segundo Gilson Machado, ele já gastou, em um ano, cerca de R$ 8 milhões (será?), restando-lhe, portanto, R$ 9 milhões, o que considera pouco, sendo necessário, por isso, reforçar o seu caixa, para permitir-lhe continuar a ser defendido do processo que contra ele corre no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de derrubada do Estado Democrático de Direito. Para esses tolos, uma insanidade.
O desejo de enriquecer acompanha Bolsonaro desde o tempo em que, seguindo os passos de seu pai, Percy Geraldo Bolsonaro, um dos garimpeiros de Serra Pelada, também andou por lá em busca de fortuna fácil na década de 1980, tendo se tornado amigo íntimo de Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió, interventor da ditadura nessa região e comandante do massacre da guerrilha do Araguaia entre os anos de 1972 e 1974, além de autor da frase que Bolsonaro adora e que colocou em seu gabinete de deputado, em 2009, para afrontar a Comissão Nacional da Verdade, quando essa investigava os desaparecidos do Araguaia: “quem gosta de osso é cachorro”.
Se Bolsonaro não conseguiu se enriquecer com as atividades do garimpo, nem por isso deixou de lado este sonho. Enquanto presidente da República fez uma leitura enviesada das regras que balizam os presentes feitos por nações estrangeiras para o Estado brasileiro, considerando-os “personalíssimos” e, portanto, como se lhe pertencessem, e cuidou de vender as joias árabes que recebeu, mas de propriedade da União, clandestinamente, com o que poderia se apropriar indevidamente de um valor estimado em R$ 17 milhões, coincidentemente o mesmo valor que recebeu no primeiro Pix. Descoberta a tramoia, foi obrigado a devolver algumas dessas joias e a enfrentar um processo de investigação sobre as mesmas, embora no início tenha negado veementemente tê-las recebido, contra todas as evidências.
Saíram as joias (será que todas?), mas entrou o Pix. Já que a materialização do sonho de ser rico não foi possível com as joias, o Pix deve ter aparecido como boa alternativa para torná-lo realidade, contando com a boa vontade de seus apoiadores que se encontram ainda no estágio do ser humano que antecede o homo sapiens, o dos neandertais. Além de legal, representa uma porta aberta para a entrada de dinheiro grosso, embora nada se saiba sobre a sua origem.
Na verdade, Bolsonaro não necessita contar com essa ajuda financeira que começa enfadonhamente a se repetir. Sua renda mensal somada à de sua mulher, Michelle Bolsonaro, chegava, em 2023, a R$ 125 mil por mês. Eram – e continuam sendo – duas aposentadorias: uma de R$ 12 mil como capitão da reserva do exército brasileiro, e outra de R$ 30 mil como parlamentar. Além disso, recebiam, ele e sua esposa, R$ 83 mil por ocuparem cargos de honra no Partido Liberal (PL), bancados pelo fundo partidário, ou seja, com o dinheiro do povo. Nada como fazer gentilezas às custas de outros. Mas como diz o ditado “enquanto existir cavalo São Jorge não anda a pé”, nada melhor que aproveitar a tolice de seus apoiadores para ficar rico. Que venham, então, mais Pix.
* Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social e do Grupo de Estudos de Conjuntura do departamento de Economia da UFES, articulista do Debates em Rede, e autor, entre outros, do livro “A economia política clássica: a construção da economia como ciência”, publicado pela Editora Contracorrente, em 2023.